segunda-feira, 10 de março de 2014

A ESTRELA PENTAGONAL

A Estrela de Cinco Pontas, ou Pentáculo, é um dos símbolos da magia, sempre presente nos ritos de diversas correntes iniciáticas e místicas (1).

Na magia, de acordo com a sua orientação, ela pode acompanhar operações de magia branca, ou de magia negra. Quando colocada com sua ponta isolada para cima, ela significa teurgia e conclama as influências celestiais, que, por seu poder mágico, virão em apoio ao invocador; com a ponta isolada voltada para baixo, ela significa goécia e, de acordo com as intenções do mago, atrai maléficas influências astrais.

Teurgia é, em essência, a arte de fazer milagres; é o ramo da magia que trata das influências benéficas e do modo de invocá-las; refere-se, também, a todas as obras cujas idéias envolvem o amor e o bem e investiga, em especial, os fatos mais elevados da magia, os quais dependem do mundo angelical, dando, ao homem, os meios de se colocar em comunicação com as chamadas potências celestes (os textos bíblicos mostram muitos exemplos de teurgia). A teurgia é também chamada de magia branca.

Goécia é a arte de realizar malefícios e encantamentos; também chamada de magia negra, nigromancia e feitiçaria, ela é a antítese da teurgia, pois esta se dedica às obras de luz, enquanto aquela é dedicada às obras das trevas. Ela é a parte experimental da magia, no que se refere aos poderes que o homem desenvolve em si, através de determinados processos, e ao domínio que poderá chegar a exercer sobre as entidades do astral; enquanto isso, a teurgia ensina o homem a se relacionar com os planos superiores da espiritualidade, abrindo-lhe caminho para os grandes segredos do esoterismo.

A missão principal da Estrela Pentagonal é, então, testemunhar a obra que está sendo feita: se esta for uma obra de luz, a ponta única estará voltada para cima; se for uma ação das trevas, a posição será invertida.

Como símbolo mágico e necessário em todos os trabalhos de magia, ela, obrigatoriamente, deverá ser composta por todos os metais e, na sua consagração, devem entrar todos os elementos. A consagração do pentagrama, na magia, é feita da seguinte maneira:

Inicialmente, ela deve ser soprada cinco vezes, uma em cada ponta, molhando-se, em seguida, outras cinco vezes, com água lustral, e secando-se na fumaça dos cinco perfumes: incenso, mirra, enxofre, alóes e flor de cânfora. A seguir são novamente sopradas as cinco pontas, enquanto são pronunciados os nomes dos cinco gênios: Rafael, Gabriel, Samael, Anael e Orifiel ; depois, a estrela é colocada no chão, virando-se a ponta única, sucessivamente, para o norte, para o sul, para o leste e para o oeste, ao mesmo tempo em que são pronunciadas, em voz alta, as letras hebraicas iôd, hé e vav (ou vau) e, em voz baixa, as letras aleph e tau. Iôd, hé e vav são as letras que formam o nome hebraico de Deus, com a repetição da letra hé (iôd, hé, vav, hé), enquanto aleph e tau são, respectivamente, a primeira e a última letra do alfabeto hebraico, simbolizando tudo o que existe (similar a "de alfa a omega"). Depois disso, a estrela é colocada sobre o altar das invocações, sendo rezadas as preces dos silfos, das ondinas, salamandras e gnomos (2), enquanto são molhadas, novamente, as cinco pontas, secando-se, em seguida, na fumaça dos cinco perfumes.

O ocultista Eliphas Levi assim explica o significado da Estrela Pentagonal:

"O pentagrama é o signo da onipotência e da autocracia intelectual. O signo do Verbo feito carne e, segundo a direção dos seus raios, este símbolo absoluto em magia representa o bem ou o mal, a ordem ou a desordem, o cordeiro bendito de Ormuz e de São João, ou o bode de Mendés. É a iniciação ou a profanação, a vitória ou a morte, a luz ou a sombra. Elevado no ar, com duas pontas para cima, representa satã, ou o bode da missa negra; com apenas um dos raios para cima, é o Salvador. O pentagrama é a figura do corpo humano, com quatro membros e uma única ponta, que deve representar a cabeça. Uma figura humana, de cabeça para baixo, representa, naturalmente, o demônio, ou melhor, a subversão intelectual, a desordem, a loucura".

Assim, para os ocultistas, todos os mistérios da magia e da alquimia oculta, todos os símbolos da gnose e todas as chaves cabalísticas da profecia resumem-se no Pentagrama, que o famoso alquimista Paracelso --- cujo verdadeiro nome era Aurelius Filipus Teophrastus Bombastus von Hohenhein --- do século XVI, proclamava como o maior e o mais poderoso de todos os signos.

Quem deu o nome de Estrela Flamejante ao pentagrama foi o teólogo e médico Enrique Cornélio Agrippa de Neteshein --- natural de Kholn (Colônia), onde nasceu, no final do século XV --- que também era dedicado á magia, à alquimia e à filosofia cabalística

Em Maçonaria, a Estrela Flamejante só foi introduzida nos meados do século XVIII, na França, pelo barão de Tschoudy, também ligado ao ocultismo. Ela, na Ordem maçônica, é relacionada às escolas pitagóricas, mas não se pode esquecer que Pitágoras também era dedicado à magia, não sendo de admirar o fato de ter adotado esse que é o símbolo máximo da magia.

Sendo, a Maçonaria, uma obra de luz, é evidente que, nela, a Estrela Pentagonal tem a sua ponta única voltada para cima, nela se inscrevendo a figura de um homem --- por isso ela é também chamada de estrela hominal --- representando, assim, os atributos da alta espiritualidade humana; em posição invertida, seriam inscritos, em suas cinco pontas, um homem de cabeça para baixo, ou a cabeça de um bode, representando, em ambos o casos, os atributos da animalidade e da materialidade. É importante ressaltar, todavia, que os primeiros maçons aceitos, de todo o século XVII e de metade do século XVIII, assim como os antigos maçons operativos, não conheciam o pentagrama como símbolo maçônico, já que os símbolos maçônicos tradicionais são os objetos ligados à arte da construção; além disso, não são todos os ritos que o adotam : o Rito de York, o mais praticado no mundo, por exemplo, adota a estrela de seis pontas --- Blazing Star, para o rito, ou Maguen David, para o judaísmo --- formada por dois triângulos eqüiláteros cruzados e opostos pelo ápice, onde o triângulo de ápice superior é o símbolo da espiritualidade e o de ápice inferior é o símbolo da materialidade.

A Estrela Flamejante não é, portanto, um puro símbolo maçônico, tendo a sua origem na magia, desde os mais remotos tempos.

Notas

1. A Estrela Pentagonal, também é chamada de Pentalfa, palavra formada por penta (cinco) e alfa, a primeira letra do alfabeto grego e letra inicial dos vocábulos gregos utilizado para designar: ver, ouvir, meditar, bem agir e calar (ATREO, AISTO, ADALESQUE, AGATOPOEIRO, ABAQUIDZI), cujo símbolo é a Estrela Flamejante. As cinco virtudes que devem ornar o Companheiro Maçom, também são simbolizadas pelas iniciais do Pentalfa, pois o perfeito Companheiro deve ser amável, benéfico, incorruptível, casto e severo (AGANETOS, AGELASOS, AGATHOERGOS, ADIAFITHORTOS, AGNOS).

2. Silfos: são os seres machos sobrenaturais, que, segundo crenças celtas e germânicas, ocupam, no mundo invisível, posto intermediário entre os gnomos e as fadas. Sílfide é o silfo feminino, de forma leve e graciosa.

Ondinas: na mitologia germânica e nórdica, são os gênios do amor e vivem nas águas.

Salamandras : símbolo mitológico do fogo, a salamandra é um animal fantástico, constituído de energia ígnea, com a forma aproximada de um lagarto e que vive em meio às chamas; na alquimia, a salamandra constitui um signo gráfico, representativo do elemento fogo.

Gnomos : nome rosa-cruz dos espíritos elementais, minerais e terrestres; vivem no elemento terra, sob a superfície terrestre, e são os guardiões dos tesouros escondidos nas entranhas da Terra.

José Castellani
Do livro "Liturgia e Ritualística do Grau de Companheiro Maçom"

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